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domingo, 23 de agosto de 2015

Resenha - À Espera de um Milagre

Corredor da Morte de Stephen King

Título original: The Green Mile
Versão brasileira: À espera de um milagre (conhecido também como O corredor da morte)
Gênero: Literatura Americana - Romance
Autor: Stephen King, 1996

Para ler esse livro, você precisa ter duas coisas em mente:
1º - Esse não é o típico terror de King que você estava esperando (ao menos que já tenha assistido ao filme, o que acaba com a graça de ler uma boa história).
2º - Essa obra, caro leitor, não é um livro. 
Quando comecei a lê-lo, deparei-me com um grande apreciador da obras de King. No meio da conversa, expôs a seguinte opinião "É bom, apesar de ser meio água com açucar";  e isso atiçou minha curiosidade, afinal, sempre o referiram como um grande escritor de suspense e terror. Dito e feito. Se você espera aquele terror clássico de King, não o aconselho ler essa obra. Há um pouco de horror em algumas execuções na Velha Fagulha (nome dado carinhosamente à cadeira elétrica do Bloco E em uma penitenciária em Could Mountain) e um pouco de misticismo, característica marcante do autor. 
A história não segue uma sequência cronológica, assim, há momentos em que  se passa no Corredor da Morte, e em outro no asilo Georgia Pines, ambos narrados por Paul Edgecombe, superintendente do bloco responsavél pelas execuções. De todos os quatro prisioneiros apresentados, apenas um, que é louco o  suficiente para se denominar Billy The Kid, possui um psicológico instigante - talvez, se a narrativa fosse presa à ele, teríamos mais momentos de horror -.  O foco é o último detento a caminhar pelo Corredor, John Coffey, um negro condenado no sul extremamente racista dos Estados Unidos, cuja história leva Paul e seus colegas de trabalho a uma busca pela verdade por trás de sua condenação. Seria John, com seu tamanho tão grande quanto seu medo do escuro, o responsável por estuprar e assassinar duas menininhas?
A narrativa busca um lado mais psicológico e intimista dos personagens. É muito fácil se ver envolvido com seus dramas e sentimentos - não duvido que alguns possam chorar em certas partes -, no entanto, talvez pelo fato do narrador já possuir uma idade avançada, no final do livro, ao fechar as histórias dos personagens, preocupa-se mais com a questão visual de cenas trágicas do que com as sensações - isso quando não dá na cabeça do autor simplesmente colocar a causa da morte e a data - . 
É interessante o caráter metalinguístico da obra; no asilo, deixa-se bem claro que Paul está escrevendo a história do Corredor da Morte. King é transferido para o personagem que faz análises, pensamentos e complementa a história de maneira informal. Há um choque de gerações, um encontro entre Pauls.
Sugiro que comece a ler a partir da Introdução e siga para o Prefácio, pois essas partes são cruciais para o seu entendimento, assim, compreenderá o que eu disse no início: Essa obra não é um livro porque simplesmente não foi feita neste formato. Inspirado nos romances de Charles Dickens, King escreveu a história em seis partes diferentes que eram lançadas semanalmente (José de Alencar e Machado de Assis já fizeram muito  disso por aqui com o nome de Folhetim), dessa forma, no início de cada parte tem-se a recapitulação do que aconteceu na outra - o que pode parecer uma edição mal feita para os desavisados e causar estranhamento para os que vão ler de forma compilada -. No Posfácio há uma outra avaliação da obra em que o autor reconhece diversos anacronismos e falhas e as justifica pelo pouco tempo que teve de escrever e corrigir, uma vez que esse formato condiciona os envolvidos em uma corrida contra o tempo. Desculpas aceitas, Stephen! 
Como o próprio autor afirmou, é uma boa história para ler a noite, sozinho ou acompanhado, por ser bem leve e fluir com facilidade. Não desanime por não ser o clássico terror, se até o King experimentou um novo estilo, você também pode. Vale a pena correr o risco.

"Cada um de nós tem compromisso com a morte, não há exceções, sei disso, mas às vezes, oh meu Deus, o Corredor da Morte é muito comprido."



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