-Táxi? –
Agitou as mãos.
Um veículo
sedan branco parou a sua frente. O motorista espichou o corpo volumoso como se
estivesse atado ao carro. Na verdade, ele e o veículo eram um só depois do
tempo que haviam passado juntos. Parecia que as pregas dele eram as mesmas das
do banco de couro rasgado.
O homem
entrou e sentou-se no banco de trás. Retirou o chapéu negro, repousou as mãos
sobre o colo; aspergiu no ar seu aroma de cigarro barato.
Para onde vou? Raciocinou. Estava em
tamanha melancolia que tudo que vinha em sua mente era Não! Não! Você não precisa fazer isto! Não! Mas estava em conflito.
Se pudesse, arrancava seu cérebro confuso naquele momento e escutaria a música
do silêncio. Vá! Pule! Mande este bosta
pra puta que pariu e pule! Saia desse táxi e pule! Pule! Pule! Qual voz
seguir? Pular ou não.
-Pro centro.
– Ordenou de forma ríspida. O taxista não reparou, estava acostumado com a vida
noturna.
Acendeu um
cigarro.
-Êpa! Não
pode fumar aqui, cara.
Pouco se
lixava para o motorista. Apague o
cigarro. Vamos! (...) Não! Deixe que a fumaça invada o pulmão daquele
sujeitinho imundo e veja-o definhar aos poucos... De que lhe adiantava a
filosofia naquele momento? Onde arranjar explicações para o inexplicável. Decidiu
jogar o cigarro ainda aceso pela janela.
-Chegamos.
São vintinho.
-Vinte reais?
Não tenho. – Isso, dê o calote! Seja
homem! Macho! (...) Não, procure melhor, tem aquele dinheiro da padaria, dá pra
inteirar o resto. – Ah, achei o dinheiro.
Bateu a porta
e observou o carro branco desaparecer na esquina da Avenida Duque de Caxias.
Agora, as cores mudaram de tons e viraram azuis e vermelhas. Os zumbis da noite
perambulavam pelas calçadas apinhadas, acendendo cachimbos em montinhos de pó branco.
O escuro acalentava aquelas almas perdidas.
Caminhou lentamente, sem ao menos notar que
acabaram de levar sua carteira. Mais
rápido! Rápido! (...) Não! Nããão! Meia volta! Pegue outro táxi! Para casa!
Deparou-se com uma das almas perdidas estendendo-lhe a mão suja do branco e do
marrom. Abaixou o olhar e fitou os olhos vazios; a pele enrugada e a boca
desdentada aberta em pavor. Mas não pôde aguentar ao sentir novamente o acre
odor da droga; do vício lancinante; da ferroada moral. Estava em conflito.
Perdera a batalha, porém, ainda não a guerra.
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