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quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Táxi

-Táxi? – Agitou as mãos.
Um veículo sedan branco parou a sua frente. O motorista espichou o corpo volumoso como se estivesse atado ao carro. Na verdade, ele e o veículo eram um só depois do tempo que haviam passado juntos. Parecia que as pregas dele eram as mesmas das do banco de couro rasgado.
O homem entrou e sentou-se no banco de trás. Retirou o chapéu negro, repousou as mãos sobre o colo; aspergiu no ar seu aroma de cigarro barato.
-Pra onde vai?

Para onde vou? Raciocinou. Estava em tamanha melancolia que tudo que vinha em sua mente era Não! Não! Você não precisa fazer isto! Não! Mas estava em conflito. Se pudesse, arrancava seu cérebro confuso naquele momento e escutaria a música do silêncio. Vá! Pule! Mande este bosta pra puta que pariu e pule! Saia desse táxi e pule! Pule! Pule! Qual voz seguir? Pular ou não.
-Pro centro. – Ordenou de forma ríspida. O taxista não reparou, estava acostumado com a vida noturna.
Acendeu um cigarro.
-Êpa! Não pode fumar aqui, cara.
Pouco se lixava para o motorista. Apague o cigarro. Vamos! (...) Não! Deixe que a fumaça invada o pulmão daquele sujeitinho imundo e veja-o definhar aos poucos... De que lhe adiantava a filosofia naquele momento? Onde arranjar explicações para o inexplicável. Decidiu jogar o cigarro ainda aceso pela janela.
-Chegamos. São vintinho.
-Vinte reais? Não tenho. – Isso, dê o calote! Seja homem! Macho! (...) Não, procure melhor, tem aquele dinheiro da padaria, dá pra inteirar o resto. – Ah, achei o dinheiro.
Bateu a porta e observou o carro branco desaparecer na esquina da Avenida Duque de Caxias. Agora, as cores mudaram de tons e viraram azuis e vermelhas. Os zumbis da noite perambulavam pelas calçadas apinhadas, acendendo cachimbos em montinhos de pó branco. O escuro acalentava aquelas almas perdidas.
 Caminhou lentamente, sem ao menos notar que acabaram de levar sua carteira. Mais rápido! Rápido! (...) Não! Nããão! Meia volta! Pegue outro táxi! Para casa! Deparou-se com uma das almas perdidas estendendo-lhe a mão suja do branco e do marrom. Abaixou o olhar e fitou os olhos vazios; a pele enrugada e a boca desdentada aberta em pavor. Mas não pôde aguentar ao sentir novamente o acre odor da droga; do vício lancinante; da ferroada moral. Estava em conflito. Perdera a batalha, porém, ainda não a guerra.


por Walter Crick

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