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segunda-feira, 12 de maio de 2014

Dias

Meus olhos, perdidos no silencioso horizonte observam ao gritante dourado do sol poente que rasga o toque do imenso céu azul nas negras montanhas enevoadas.
Perdido, cá estou, desventurei-me a residir esse mundo fétido, onde tudo está perdido. Sobram apenas os corpos ambulantes sem vida daqueles que um dia foram como eu, iludido. O mundo está doente e estar são já não é mais um escolha. 
            Ao longe, lenta e cambaleante se aproxima uma pobre e maldita criatura, o corpo esguio trajado em panos sujos e rasgados , a face desfigurada por cortes profundos ainda brilha em vivo sangue, fétida e suja, a sombra do crepúsculo da humanidade. Findaria-se assim a humanidade? Findaria-se assim minha vida? As perguntas insolúveis apenas aumentam o tormento da estadia limitada e precária na Terra. Em ruínas se despenca a sociedade. O fim? O fim é inevitável. A criatura ainda anda, seus olhos sem brilho e sem cor já fitam os meus, posso ouvir seus grunhidos, sua boca semiaberta pinga sangue, estica suas mãos podres a mim, sem reação aguardo o derradeiro fim, então, em um instante lembro de uma frase citada por minha mãe nas situações em que sentia medo.
 "Feche os olhos".
            Fechei-os.

Toquei-a nos lábios, toquei-a no nariz, toquei-a nos ombros, toquei-a nos seios. 
           
—Te amo— sussurrei.


            Poderia finalmente amá-la como jamais o fiz, estávamos juntos para sempre, afinal fomos feitos um para o outro.

            Beijei-a.


            Acariciei seus cabelos negros, alisei sua pele aveludada e limpei ao sang...


            Lágrimas caíram de meus olhos marejados, minhas mãos começaram a tremer, minha mente voltava á sanidade e o terror disseminara-se sobre mim.


            Jazia ali a dona do canto mais profundo, obscuro e belo do meu coração, jazia ali aquela que amei com todas as forças que tive, jazia ali a criatura mais doce que residiu esse mundo podre, o amor que cultivei por toda uma vida, em vão, jamais fui correspondido.
Matei-a, da forma mais cruel, os seus olhos sem brilho fitavam o vazio, seus lábios semi-abertos exalavam o terror que sentiu, a pele pálida tão gelada como nunca antes. O agouro de ama-la perpetuara-se em meu coração no momento em que tirei dela oque lhe era de mais precioso.

 A vida.

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