Páginas

Pesquisar este blog

segunda-feira, 29 de abril de 2013

2 Maneiras de Matar Dominique

*Baseado na obra "Noite na Taverna" de Álvares de Azevedo
 

Infinito do céu
     Acendeu a luz e viu uma cena macabra.
    Johann havia matado o próprio irmão e sucumbido a pureza da irmã. Com certeza a testemunha ganharia muito com esse acontecimento. A pessoa escondida por trás da porta saiu antes que sua identidade fosse descoberta.O sobretudo escondia sua face e sua roupa de trabalho. Já era tarde e ninguém estava acordado para ver aquele vulto negro saindo apressado da casa.
     O rapaz ficou desnorteado. Pegou os corpos e viu que a vida deles já haviam se esvaído. Prontificou-se em achar um lençol branco e envoltou os cadáveres. Abriu um buraco no jardim e depositou os corpos inertes.
     Após ocorrido o rito fúnebre improvisado, fez uma pequena prece e se dispôs a chorar. Enquanto isso, uma mansão de luxo, estava a testemunha do ocorrido. Um de seu clientes havia acabado de ir embora e deixou em cima da cama bagunçada, aproximadamente mil e quinhentos reais. Dominique estava cansada, já se passavam das três da manhã,mas não estava cansada o suficiente para não articular o seu plano. Colocou um de seus discos para tocar,abriu uma garrafa de Champagne italiano e despediu-se do robe de seda francês para relaxar em sua banheira de sais indianos.
     Tomou um gole da taça reluzente de cristal e soltou uma gargalhada medonha. Johann acabava de se tornar sua mais nova fonte de riqueza.  
     Já haviam se passado três dias do incidente, e Johann já estava superado do trauma que causou a si mesmo. Continuou com sua vida, como se nada tivesse acontecido.
     Uma carta anônima estava embaixo de sua porta, a letra era recortada de jornais e revistas. Havia apenas uma palavras, mas que dizia muito: Assassino
    Johann sentiu o chão ceder. Alguém sabia de seu segredo. Mas quem seria? Havia tomado todas as precauções, não é mesmo? Mas nada disso o perturbava. Ele tinha que saber quem era e o que essa pessoa tinha em mente.
     Dominique, com seu falso sotaque francês, era influente na elite. Ninguém sabia como uma prostituta conseguia tanto poder e reconhecimento na cidade. Passou o dia mandando o prefeito, que teve que cancelar uma viagem com a família real inglesa, fazer um levantamento dos patrimônios de Johann, um homem falido, mas que receberia cinco milhões e meio herdados do pai que foi encontrado morte em uma das vielas da cidade. Apesar de achar pouco comparado ao salário e as regalias recebidas, decidiu manter o plano a fim de se divertir.
     Assim que recebeu a notícia da herança, Johann colocou um detetive particular para vigiar sua casa. Com pouco tempo, a identidade de Dominique já não era mais segredo.
     Dominique foi abordada por dois rapazes enquanto atravessava uma rua vazia. Com um lenço em sua boca, embebido de uma substância tóxica, entorpeceram-na.
     Ela não sabia como, mas estava em um avião de paraquedas em pleno voo. Johann então apareceu. 
    - Até que enfim nos encontramos Dominique. Ou seria melhor Anderson?  
    - Como você descobriu isso? - Perguntou Dominique com os olhos arregalados
   - Digamos que eu tenho minhas fontes, meu caro Anderson. - Disse Johann, pausadamente, chegando perto do rosto dela.
    - Dominique, faça-me o favor! - Disse ela, cuspindo as palavras com desprezo.
   - Hum, acho que não.Eu escolho como posso te chamar, afinal, sua vida está em minhas mãos. - Falou com um ar misterioso.
    - Como assim a minha vida está em suas mãos? - Apertou os olhos desconfiada.
     Nesse instante, ele sacou do smoking preto, uma arma e a apontou diretamente à ela.
    - Não, não. Por Favor! O que você quer de mim? - Perguntou, fazendo-se de vítima.
    - Só apagar minha única testemunha. Assim eu livro muita gente de suas chantagens, não é verdade? - Questionou Johann com um tom despreocupado.
    - Testemunha? Mas de quê? - Continuou Dominique a fingir.
    - Ora, vamos para de cenas Anderson. Eu sei da sua fama de chantagista, foi com isso que você conseguiu tanto dinheiro, não é mesmo? Duvido que o seu trabalho tenha rendido tanto em tão pouco tempo. E quanto o meu caso, ambos sabemos do que se trata. - Disse com um ar de zombaria.
      - Me matando só lhe causaria mais problemas. Eu contei o seu segredo. - começou a rir - Agora mesmo a cidade inteira deve estar te procurando para por-lhe atrás das grades.
    - E você perderia a chance de conseguir meus cinco milhões e meio? - o rosto de Dominique ficou sério, e então foi ele quem começou a rir - Te conheço mais do que você imagina, Anderson.
     Ele pegou as duas mochilas com paraquedas. Colocou uma nos ombros e deu outra para o piloto. O rosto de Dominique tornou-se sombrio, ela sabia que esse era o seu fim.
     O piloto saltou.
     - A história é o seguinte: Ou você leva um tiro, ou pula sem paraquedas, ou fica no avião e espera ele colidir com alguma coisa. - Disse ele e em seguida pulou.
     Ela viu que não tinha mais saída. Resolveu pular, torcendo para aterrizar em um local macio, mas algo deu errado. Seu longo aplique capilar ficou preso nas turbinas do avião e a cabeça foi arrancada do corpo, que caiu em meio o infinito do céu  rumo às pedras pontiagudas, que o perfuraram. O sangue jorrou no paraquedas de Johann, e esse virou sua relíquia pessoal.
     Johann se tornou um heroi mascarado, com um sotaque espanhol forjado, uma capa preta e portando uma espada pontiaguda, livrando as pessoas de seres opressivos e charlatões que se desenvolveram em uma sociedade capitalista e que preza, cada vez mais, o lucro.

("Jéssica Stewart")

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Conto - 2 Maneiras de matar Dominique

           


Veneno contra veneno



Ao acender a luz, Johann reparou que ali, na cena do crime, havia uma espiã indesejada. A espalhafatosa mulher encontrava-se próxima a uma estante, fumando um Cohiba legitimamente cubano. Percebia-se, pelo odor amadeirado, que o charuto era raríssimo, além de ser do mais fino tabaco e, inclusive, apreciado por personalidades como Fidel Castro.





A mulher se apresentou como Dominique, uma prostituta de luxo. Suas roupas indecorosas não a desmentiam: Ela usava um par de brincos argolados dourados, e um cordão longo e também metalizado, que lhe caía até o decote, reforçando a ousadia da mulher. Naqueles tempos, não se facultava o uso de roupas tão esdrúxulas, e aquela “cidadã” era uma exceção. Além de seus ornamentos, ela levava consigo uma pistola de calibre médio na cintura, carregada com seis balas de chumbo polido.


Insinuando-se para o jovem londrino, a mulher buscou encontrar algo que lhe interessasse para extorqui-lo. Porém, o sempre desconfiado Johann pressupôs que aquilo não era de bom grado, e foi logo reprimindo a mulher:


—O que a senhora está pretendendo adquirir com essa insinuação prepotente? Saiba que sua ganância já matou muito tempo atrás. Agora, a Dominique que vive e que está em minha frente é somente mais um pesadelo de Londres que está prestes a ser esquecido. A senhorita não acha? — Indagou.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

E tragicamente aconteceu... (O precedente)

    
Emma era apenas uma jovem de dezenove anos, cuja vida mal havia começado.
    Apesar de seus pais terem uma condição financeira de sustentar toda a sua vida (e sem dúvida, a vida de seus futuros filhos), ela insistia em conquistar  independência , porém a perda de seu pai em um acidente de carro acabou mudando seus planos. Ela até tentou por três anos consecutivos passar em diversas faculdades, mas não obteve resultado algum.
     A garota que antes era doce e apaixonada pela vida deu lugar a uma jovem amargurada, que já não via beleza em nada e passava os seus dias sentada sob uma pedra à beira mar, refletindo em como e porque sua vida havia tomado tal rumo. Seus amigos tentaram trazê-la de volta à realidade, mas desistiram semanas depois.
     Vendo o estado de sua filha, a mãe decidiu mandá-la para outro país. Mas ela relutou; não via motivo para abandonar sua mãe, sua única família, em busca de um velho sonho que fora enterrado junto com a antiga Emma. 
     Mal sabia ela que sua mãe acreditava fervorosamente que veria sua filha estonteante novamente, como costumava ser, assim que retornasse da temporada fora de casa. E insistência de sua mãe era tanta, que acabou cedendo. Ela sabia que essa decisão aquietaria o aflito coração da mãe, apesar de que ainda achava que isso era sem necessidade.
    
   O dia da tão temida viagem então chegou. Emma não havia separado muitas roupas, pois pretendia retornar para sua casa o quanto antes possível. Deu uma rápida olhada pelo quarto para ver se estava esquecendo algo importante e deparou-se com seu antigo amuleto da sorte -  uma velha foto de seu pai segurando-a em seus braços quando tinha apenas três anos. Ela estava vestida de anjo, por conta de uma apresentação da escola. A felicidade, capturada no instante em que a foto foi tirada, é evidente através dos sorrisos largos, daqueles que indicam as gargalhadas contagiantes, em que os olhos se contraem as bochechas se ressaltam e a boca se escancara mostrando todos os dentes. 
   Deixou-se contagiar pela foto e um pequeno sorriso brotou em sua face, o que já não acontecia há muito tempo. Apertou-a no peito e pediu a ele proteção. Uma lágrima apontou no canto do seu olho.
    
  Emma deixou o quarto em silêncio. Ficou assim durante todo o trajeto até o aeroporto.  Após longas despedidas, Emma embarcou no avião.  Nem ela mesma se lembrava de como havia chegado até ali, ou até mesmo do que sua mãe havia dito para tranquilizá-la. Estava em um estado mórbido, apenas seu corpo estava presente, pois sua alma estava perdida em outra dimensão - onde o medo de que algo acontecesse com sua mãe na sua ausência e a descrença de que a viajem mudaria alguma coisa em sua vida dominava todos os seus pensamentos e ações.
      Subitamente ela foi retirada do transe. Havia alguém sentado justamente no seu lugar. Era um rapaz alto, de olhos claros, cabelos cor de bronze e rosto quadrangular. Usava um casaco de frio com o capuz sobre um boné de aba reta, blusa listrada e uma calça jeans. O típico "garoto da moda". Ela não se importou em usar os maus modos e foi logo pedindo para que ele se retirasse. Ele a olhou diretamente nos olhos e, por um instante, ambos sentiram uma conexão inexplicável. Ela corou, mas em seguida retomou a postura severa e cobrou uma resposta, cruzando os braços. Gentilmente, ele mostrou  sua passagem, e com um sorriso no rosto mostrou que ela estava enganada; mas - como um bom cavalheiro -  cedeu o seu lugar. Emma corou novamente, devido ao erro, e sentou-se rapidamente.
   Eles conversaram durante toda a viagem. Andrew, o rapaz, contou-lhe que era um intercambista e que retornaria ao Brasil em dois meses, e ela contou  tudo o que a levou até lá. Ele enxugou com os dedos as lágrimas que começaram a saltar dos olhos dela, então pôde sentir sua pele gelada. Prontamente retirou seu casaco e entregou-a, que não recusou, pois sentia um frio não só no ambiente, mas também em seu coração. Ele abraçou-a forte, a fim de compartilhar a sua dor. Ficaram assim até o avião pousar.
     
  Ao sair do aeroporto, Emma encarou radiante a beleza de seu novo lar. Sentiu alguém se aproximar, e quando viu que era Andrew, retornou ao seu estado de admiração. Nunca vira na vida uma grama tão verde, um pôr-do-sol de um alaranjado vivo com o seus raios penetrando por entre as árvores que pareciam ter sido recentemente podadas. Andrew, timidamente, entrelaçou seus dedos nas mãos de Emma, que os apertou com suavidade. Deixando levar-se pelo momento, ela deitou sua cabeça sobre os ombros dele.
      A partir dali, ambos sabiam que não eram meros desconhecidos; pelo contrário, já se consideravam amigos de longa data. Acima de tudo, eles tinham a convicção de que aquela viagem ultrapassaria todas as sua expectativas e que ficaria marcada na vida de ambos.
   Para sempre.

("Jéssica Stewart")

segunda-feira, 8 de abril de 2013

A flor e a traição

    


 Em um reino distante morava Megan, sucessora ao trono, e sua irmã, Alicia; que era comparada às flores mais belas já vistas, devido à sua beleza rara. Mas ninguém ousava comparar a beleza das duas irmãs, pois nem mesmo a mais rara flor chegava perto da de Megan.

Sonho adolescente

   


  "Bom dia minha princesa." 

     Foi com essa frase ao pé do ouvido que Theodora despertou pela manhã.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Olhos verdes.


   Uma noite voltando de metrô para casa, como fazia cinco vezes por semana, Kyle se encontrava exausto, com o nó da gravata frouxo no pescoço, o colarinho desabotoado, a cabeça jogada para trás e incrivelmente charmoso. Em uma parada, pessoas saíram, pessoas entraram e o som do entra e sai dos pés ao chão do metrô o fez erguer a cabeça. Passou os dedos por entre os lisos fios negros de seu cabelo jogando-os para trás. Tinha mania de fazer isso. 

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Antítese, paradoxo... tanto faz!



Sinto-te distante,
Porém estás perto de mim.
Talvez se estivesse longe, te sentiria mais perto
Ou talvez distante, minha tristeza diminuiria. 

Mas você está perto,
Perto demais,
Perto ao ponto de me deixar triste,
Por estar tão longe ao mesmo tempo.
Tão longe... Tão perto... Tão triste!

Como eu gostaria de poder voltar no tempo,
Mudar tudo,
Apagar momentos vividos,
Sentimentos hoje já esquecidos.     

Quem me dera voltar ao passado
E reviver tudo o que tivemos antes,
Porque, ao menos da minha parte,
Foi verdadeiro, sincero, puro.

Faça tudo,
Corra o mundo se possível,
Viva, sonhe, ame.
Só não me deixe saber que tudo o que passamos
Não significou nada para você.



_ Jéssica Stewart_

terça-feira, 2 de abril de 2013

Memória de um esquizofrênico



      Ergueu a cabeça.Olhou para os lados.Ninguém.O homem via-se embutido em um dos becos,à procura de algo que nunca encontraria ali.
           Pairava sobre sua cabeça uma espessa,gélida e petrificante névoa que lhe encobria toda a visão,o que o impedia de enxergar mais de um palmo à sua frente.Inúmeras gotas de suor caiam de seu corpo e percorriam o sinuoso caminho até o chão.Todo o seu corpo já padecia e fraquejava após horas perambulando sobre as ofuscantes luzes da avenida Oxford.Aquele beco era sua única saída para escapar de toda a turbulência em que se encontrava naquele momento.