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domingo, 29 de janeiro de 2017

MINICONTO - Ciclos(Regresso)



Acordei sobressaltado, saindo do que agora parecia um sonho. Há pouco ela havia se esvaído com aquele último suspiro. Queria tê-la novamente dentro de mim.
Eu poderia ter aproveitado mais. Deveria ter sido menos rabugento, amado mais. Quão triste estava me sentindo!
Emergi no sono eterno, sozinho mais uma vez no infinito.
...

Nadei em direção à luz. Abri os olhos e pude sentir um calor sobre meu rosto. Por um segundo, senti o amor voltando ao meu corpo, vi o choro nos olhos de minha nova família, e chorei também, de felicidade. A vida me abraçava novamente!


Este conto foi participante do concurso de Micro Contos 2017 do site EntreContos. Confira a versão original em https://entrecontos.com/2017/01/13/ciclos-regresso/

(André Luiz)

domingo, 22 de janeiro de 2017

Crônica - Adeus (É só isso o que eu tinha pra te dizer)




Essa é a primeira vez que escrevo algo sobre você e espero que seja a última. Não quero te colocar novamente num papel por medo de me expor demais e acabar dizendo coisas que não deveria; quando escrevo, deixo-me levar pelo sentimento poético que acaba controlando minhas mãos... mas dessa vez, escrevo porque quero te eternizar.
Pensei em dizer como nos conhecemos, mas acho que isso nunca aconteceu: você é uma esfinge e eu sou inconstante. Talvez seja por isso que a gente se comporta como completos desconhecidos quando se encontra por aí...

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Crítica - Chantagem e Confissão, filme de Alfred Hitchcock


Apesar de ser uma das primeiras obras do pai do suspense, Blackmail possui alguns dos elementos que marcam as criações de Hitchcock, como crimes efetuados por autores "improváveis" - um marido apaixonado, um filho carinhoso ou uma dama ingênua -, sonoplastia marcante, e pequenos acontecimentos que acabam desencadeando a trama; no caso de Blackmail, é o abandono da protagonista pelo parceiro em um restaurante.
Em 1929, data de lançamento da obra, o capitalismo passava por uma de suas piores crises. A provável falta de recursos a serem investidos na produção aliada a um cinema com tecnologia ainda precária, resultou em um filme com pouco apelo visual, com cenários limitados, poucos personagens e figurinos, mas, em compensação, os longos diálogos preenchem os espaços deixados e, embora duradouros, não são cansativos devido a alternância de câmeras em diferentes ângulos, ademais constituem uma parte importante para que o espectador compreenda os caminhos tomados na trama e analise psicologicamente os personagens.

Entretanto, o que nitidamente mais chama a atenção é o papel de Anny Ondra. Alice White, a protagonista, é uma típica senhorita de classe média dos anos 20 que exala graciosidade na fala, no sorriso, nos gestos, possui uma educação impecável, uma dama. Todavia, reagiu de forma inesperada quando tentaram aproveitar de sua ingenuidade, e as consequências desse ato provocaram uma notória mudança no comportamento da personagem. Mais madura e introspectiva, Alice tenta conviver com os conflitos que permeiam sua mente e com a culpa por suas ações. Muito embora Hitchcock talvez não se preocupasse em deixar explícita a problematização acerca das questões de gênero na sociedade da época, é válido ressaltar essa possível análise. A visão de sexo frágil, ainda presente na cabeça de muitos, é posta de xeque pela protagonista, e é essa mentalidade que a salva de uma condenação penal, entretanto corrobora em uma autopunição psicológica.
Todavia, pouco se problematiza a respeito de quem é a vítima e quem é o agressor. Não há uma discussão que leve o espectador a reconhecer que Alice na verdade é vítima de uma sociedade com valores misóginos e que suas ações são reflexos da violência cometida contra ela. Provavelmente, uma análise mais aprofundada desse problema entraria em conflito com os valores da época e teria grande impacto na carreira do diretor, uma vez que, 87 anos após o lançamento da obra, as questões de gênero ainda não foram superadas e mantém-se a visão de incapacidade de autodefesa feminina.
Blackmail, ainda que seja uma ficção em preto e branco, traduz uma realidade atual do universo feminino que sofre com abusos, assédios e uma visão erroneamente dicotômica que o divide em dois grupos: santas e putas.
Hitchcock soube conduzir com maestria a produção da obra, o que já era esperado. Embora Blackmail não tenha atingido o mesmo grau de qualidade de Psicose ou Um Corpo que Cai, vale muito a pena ser assistido e analisado com criticidade.


Dados da obra (Imdb):


Título Original: Blackmail
Título em Português: Chantagem e Confissão
País: Reino Unido
Idioma: Inglês
Data de lançamento: 30 de junho de 1929
Duração: 84 min
Gênero: Suspense
Avaliação: 7
Direção: Alfred Hitchcock
Roteiro: Alfred Hitchcock, Benn W Levy
Elenco: Anny Odra, Sara AllGood, Charles Paton, John Longden, Donald Calthrop

("Lídia Duarte")

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Lançamento do livro PILARES ETERNOS - CONTOS FANTÁSTICOS, da Andross Editora

"Até 30 de abril de 2017, a Andross Editora estará recebendo contos fantásticos para publicação no livro PILARES ETERNOS”
 
 
 
A Andross Editora está recebendo contos fantásticos para publicação no livro "Pilares Eternos - Contos fantásticos”, a ser lançado em outubro de 2017 no evento Livros em Pauta.

Qualquer pessoa pode participar. Basta acessar o site www.andross.com.br, ler o regulamento de participação e submeter seu texto à avaliação. As inscrições vão até 30 de abril de 2017.

 
Todos os autores que forem aprovados para publicação nessa coletânea automaticamente concorrerão ao STRIX, prêmio criado e concedido pela Andross Editora aos autores cujos textos mais se destacarem em suas coletâneas. O processo de votação encontra-se no site do prêmio.
 
Prêmio STRIX

SINOPSE DO LIVRO:
Toda a História foi construída em cima de mitos e lendas extraordinárias, capazes de entreter, ensinar e aterrorizar a humanidade. O insólito e o fantástico são os pilares que sustentarão eternamente a necessidade do homem de contar.



SERVIÇO: 
Livro: “Pilares Eternos - Contos fantásticos” 
Organização: Paola Giometti
Envio do texto: até 30/04/2017
Lançamento: Outubro de 2017 (no evento Livros Em Pauta
Regulamento: no site www.andross.com.br 
Realização: Andross Editora



 
 
 
Abaixo, segue uma entrevista da organizadora do livro sobre o processo de publicação. 
Vale a pena assistir.
   

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Crônica - Os demônios de nós mesmos




Não sei se você também se sente assim, mas, às vezes, apenas me sinto como se a escuridão que existe dentro de mim me abraçasse, querendo se aquecer, deixar de ser como ela é, fria, desesperada, ansiosa e furiosa. Por muito tempo, achei que ela tentasse me levar para o lado dela, me deixar pra baixo, me enlouquecer, tirar o prazer do meu dia e da minha vida, me deixar tão chateado a ponto de não conseguir sair da cama, a ponto de me transformar em um ser...um ser... um ser perfeitamente igual a ela.
Por anos eu dei nomes a ela, nomes de outras pessoas, de coisas que aconteciam na minha vida, e até mesmo, por um momento, achei que existisse um exército delas correndo atrás de mim, mas quando cocei meus olhos e desembacei minha visão, percebi que, na verdade, era sempre a mesma, refletida em outras pessoas e coisas, convidando suas parentes, que habitam em outros, para também me abraçar.
Mas não, não é bem isso.
Então, olhe para o fundo dos olhos deles, veja a alma deles, e os abrace bem forte, mas bem forte mesmo! Tão forte que ao invés de eles te influenciarem com as coisas ruim que nos falam e nos mostram, você consiga influenciar a eles, mostrar o lado bom da vida, que apesar de todos os pesares, sinas e lidas que passamos, estamos passando e passaremos enquanto vivos, temos um motivo para respirar e continuar apanhando e lutando. Seja por nossa fé, família, amigos, familiares, nossos sonhos, desejos, ambições, pensamentos, a guerrilha da qual fazemos parte e por nós mesmos, nós nos manteremos fortes na luta, nós nos manteremos erguidos, de pé, e continuaremos vivendo e levando essa verdade a cada um de nossos conhecidos, propagando aquilo do qual somos fontes, amando e fazendo o bem, influenciando cada vez mais com bondade, generosidade e compaixão.
Esses pequenos demônios que habitam em cada um de nós, as fontes de toda tristeza, não quer que sejamos iguais a eles, são eles que querem ser igual a nós. Somos fonte de energia, de coisas boas, de alegria, compaixão, empatia, amor, carinho, palavras boas, força, perseverança e fé, e eles nos invejam amargamente por causa disso. Eles estão desesperados, com medo de si mesmos e por isso correm para nos abraçar e nos mostram e falam de coisas tão ruins e que nos deixam tão para baixo.
Você já abraçou seu demônio hoje?


("Renato Traspadini")

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Crônica - A tristeza faz parte de mim

Está no meu DNA.

Na caixinha em que veio meu código genético, aquele mesmo que define todos os meus traços, veio com um aviso:
"Contém tristeza". Intrínseca, faltou. Ou não. Não importa. O fato é que a tristeza é parte de mim.
Pelas paredes de meu coração e pelos corredores de meu cérebro percorre a tristeza, ou deixa de correr felicidade? Não... Está superabunda em meu eu, mas a tristeza ainda faz parte de mim.
"Nossa, que triste em?" - Literalmente. E nem é zoas.
Por conta dela também já perdi uns quilos, tentando correr desse sentimento, mas ele sempre me alcançava e me dava uma rasteira. Sempre doía, talvez mais do que se tivesse permanecido inerte.
Por conta dela faço, desfaço e refaço um milhão e meio de coisas ao dia, mas deixo de fazer três ou quatro milhões.
Mas não desanimo não. Ela bate, estapeia, me empurra, derruba e até dá umas facadas, mas continuo firme [igual um prego na manteiga em pleno verão brasileiro]. Mas firme, sempre.
Ela já faz parte de mim há tanto tempo mas nunca me passou despercebida. Sempre foi muito bem sentida, talvez bem até demais, algumas vezes.... Mas e o agora? Como me comporto? Às vezes até parece que não tenho a tristeza como parte de mim!
A partir do momento que aprendi que vivo para servir, tudo mudou e hoje cá estou, sorrindo e espalhando as boas novas junto ao jeito deboísmo de ser. Meus anseios, prantos e medos têm lugar especial ainda, mas não são mais prioridade. Esta, agora, é ver e fazer [ou fazer e ver] o outro sorrir, abraçar, contar piada, falar que tá bom dimais mesmo quando estiver tudo de cabeça pra baixo aparecer com um sorriso estampado no rosto em PLENA SEGUNDA FEIRA, é ouvir, ser ouvido, compartilhar, ensinar e admoestar. É também saber quando não ser assim, chegar de fininho, dar um abraçozinho e falar [ou não] que vai ficar tudo bem e que tô ali pra dar o ombro, o ouvido, o joelho, as mãos e até ser esse tanto de coisa ali de cima de uma vez só.
E ainda assim, a tristeza faz parte de mim. Mas, agora, algo muito maior também faz. Amor sem medida, amor sem igual, amor que não compactua com o mal. Amor que é por si só amor. Amor que só é possível se já foi assim amado. E eu fui, e aceitei esse amor com um abraço... E agora o multiplico, parece até coisa de mágico! Mas não é. É coisa de quem tem seja lá o que for dentro de si, não importa, mas tem água da fonte que não se esgota.
Não é só a tristeza que faz parte de mim.



("Renato Traspadini")