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sábado, 17 de maio de 2014

Lucca

         Muitas crianças já desenvolvem desde cedo uma sede insanável de cometer maldades. Muitas delas nem ao menos apresentam tal comportamento, outras porém já se demonstram frias e cruéis.
           Lucca Harinson nascera em 1928 em Milwaukee, Wisconsin. Filho de Lion e Joy Harinson. Por ser muito tímido nunca fora uma criança que se enturmava facilmente. Devido a isso criou estranhos passatempos. O seu passatempo preferido era empalhar cabeças de cachorros e espalha-las pela mata próxima de sua casa. Ele descarnava animais com um kit de substâncias de seu pai, um PhD em química.
 Em 1940, com 12 anos de idade, sua mãe faleceu após um infarto fulminante. Diante disso, ele e o pai se mudaram para Bath Touwnship, um pequeno município em Ohio.
       Lucca fora matriculado em um colégio local, no qual sofria bullying frequentemente por parte dos colegas e até mesmo professores. Chamavam-no de estranho e não lhe davam oportunidade de se aproximar para uma possível amizade. Cheio disso, o menino armara uma brincadeira para assustar os "colegas".  Ele vitimou um pequeno gato de rua e empalhou sua cabeça durante toda a madrugada, para que na manhã seguinte ele a colocasse dentro de um armário aleatório.
         O armário era de Johan Dahmer, um popular brigão do colégio, que ao abri-lo deparou-se com uma pequena cabeça de um gato pardo rolando até o chão.
        -Quem fez isso? - gritou furioso, mas não obteve respostas de nenhum aluno que presenciara o ocorrido.
            Por sorte, ninguém sabia do cruel passatempo de Lucca.
         Algumas semanas depois da brincadeira, os alunos ainda comentavam  incidente e um deles, Alec Wilson, alegava ter visto Lucca descarnando um animal no quintal de casa. Todas as suspeitas caíram assim sobre ele.
         Sem aviso prévio, Lucca fora surpreendido por um empurrão no caminho de volta para casa. Era Johan, que satisfeito com o tombo de joelhos do estranho menino, deu a volta e seguiu seu rumo. Ao tentar revidar a agressão atirando-lhe uma pedra, uma coisa inesperada aconteceu. A pedra acertou com força a nuca do garoto que logo foi ao chão já sem vida. 
          Desesperado com o que acabara de fazer, ele pegou o cadáver pelas pernas e o arrastou para um bosque ali perto. Ele ia apenas deixá-lo ali e ir embora, mas algo o fez querer ficar. Algo que dominava sua mente.
           Lucca, com a ajuda de um canivete que carregava consigo, dissecou o corpo ainda quente. Sempre teve uma grande curiosidade em ver e tocar órgãos humanos.

         No dia seguinte a manchete de um jornal local era sobre um brutal assassinato de um jovem chamado Johan Dahmer, que fora encontrado servindo de comida para alguns animais silvestres.
        Lucca, o pequeno assassino, sorria.
        Não sentia nenhuma espécie de culpa e tinha uma certeza: nunca havia sentido prazer maior. Mas o que lhe fazia sentir tanto prazer? - Indagava - com certeza a sensação de poder e de dominação.
        Lion, seu pai, acabara de perder o emprego, que era sua única forma de sustento. Resolveram então retornar à Milwaukee, onde ainda tinham uma casa para morar, já que esta que largavam era alugada, e não tinham mais como pagar.
         Com o retorno à cidade natal, o garoto ficara livre do caso. Já Lion, transtornado com a falta de dinheiro e oportunidades de emprego como professor de química, iniciou sua vida como alcoólatra.

           Quando Lucca completou 17 anos, o pai suicidou-se tomando uma mistura de vodca com remédios para dormir. Vendo-se sozinho, ele largou os estudos e viu agora uma grande oportunidade de realizar todos os seus obscuros desejos.
       Enquanto ia ao supermercado garantir o jantar, observou uma linda jovem de vestido de poá esperando pelo bonde. Uma força maior o fez se aproximar dela. Não havia ninguém ali além dos dois. Ele retirou o paletó que usava e em um rápido movimento cobriu o pequeno rosto da garota. Ela tentava gritar por socorro, mas sempre era abafada pelas grandes mãos por cima do tecido que a cegava. Era cada vez mais difícil para ela puxar fôlego. Se debatia atrozmente, mas por fim fora vencida pelo cansaço. Desmaiou.
      Lucca a carregou para casa, onde a amarrou em uma cadeira no porão e ficou esperando ela acordar ansiosamente.
       -Meu Deus... o que está acontecendo? - disse a jovem ao acordar e deparar-se com os pés e mãos amarrados.
      -Achei que você nunca fosse acordar. - disse ele aproximando-se dela - sabia que nunca estive na presença de tão formosa moça?
          -Por que você está fazendo isso comigo? - ela indagava aos prantos.
         -Por que não fazer isso com você? - respondeu-a com uma outra pergunta e levou a mão aos cachos loiros que estavam presos em um lindo rabo de cavalo. - Como é seu nome, bela?
        A garota se recusava a dizer-lhe seu nome. A má vontade que ela tinha para com ele o irritou absurdamente, que já embriagado deu-lhe uma mordida no ombro fazendo brotar uma gota de sangue. Ela urrou de dor, mas ainda se negava a dizer seu nome.
      A gota escorreu. Era de um vermelho vivo muito atraente que chamou a atenção de Lucca. Ele aproximou-se lentamente - a menina tremia com medo do que poderia lhe acontecer . Passou a áspera língua trazendo à tona uma louca vontade de tomar mais.
        -Tudo bem , eu falo meu nome - gritou por entre soluços - não faça nada comigo por favor, por favor...
         - Ora, então me diga - disse com os lábios colados em sua orelha - e diga em alto e bom som.
        -Gladys, meu nome é Gladys. - ela chorava desesperadamente - deixe-me ir por favor, eu lhe prometo que assim que você me soltar eu não vou me lembrar de mais nada.
         As tentativas de convencê-lo foram inúteis.
      -Tarde demais minha querida Gladys. 
      Depois de provar de seu delicioso mel vermelho tivera uma tenebrosa ideia. Com a ajuda de um machado de cortar lenha no inverno, abrira sua barriga, assim como fez quando criança. Porém dessa vez sentia um desejo a mais. Abaixou-se e com as mãos em formato de conchas, tomou seu sangue. O sangue quente descia por sua garganta e lhe trazia uma incrível sensação de prazer.
       Quando já se encontrava sentado na cadeira, coçando a barriga de cheiura, pegou-se admirando o cadáver.
       -Droga. Agora tenho que sumir com isso daqui... mas como?  
      Uma ideia macabra e cômica tomou conta de seus pensamentos. Para colocá-la em pratica precisaria novamente de usar o machado já sujo do golpe mortal que dera na pequena mulher.
      Cortara-a brutalmente em pequenos pedaços, reservando os ossos e cabelos. Enchera um grande caldeirão, fazendo uma espécie de sopa de Gladys e como já estava cheio, doara a sopa para carentes que por ali passavam e aceitavam de bom grado. 
         Pobres inocentes.
       Guardara seus restos de ossos e cabelo em um pote como recordação e assim faria com com suas possíveis futuras vitimas.
      
       Meses se passaram até que ele sentira novamente uma vontade que mal podia controlar. Já estava louco, mostrava-se agitado, zangado. Era visível que ele não estava bem.
      Eram aproximadamente três da tarde quando  num surto de tal loucura, Lucca, de posse de seu companheiro machado, saiu na rua lotada assustando a todos com sua agressividade fora do comum. Tentaram contê-lo, mas quando menos esperavam, o machado encontrava-se cravado na cabeça de um banqueiro local, que saíra de casa apenas para ver o desenrolar do tumulto. O sangue escorreu. 
       Inconscientemente, Lucca pulou sobre o homem já caído ao chão e começou a lambê-lo como um cachorro.
        
        A filha do banqueiro, vira tudo pela janela de casa. Numa frieza extrema, correu até a cozinha e pegou um facão, daqueles que se usa para cortar carnes em açougue. Saira de casa sem derramar uma gota de lágrima.
        Se deparou com o homem em cima do seu pai ainda vivo e agonizando.
    Lucca parou o que estava fazendo e soltou um urro de dor. A garotinha loira havia encaixado perfeitamente a faca em suas costas. Retirou-a e cravou mais algumas vezes raivosamente em torno do local da primeira facada.  Ele caira de costas no chão. Fora perdendo os sentido, ficando fraco. Sentia frio.
      A garotinha enfiou a faca em seu peito pela ultima vez  para por fim à sua agonia e virou -se ao pai:
        -Agora vai ficar tudo bem papai. Ele já foi embora. - Ela sorria. Não sentia culpa alguma.
      Enquanto todos olhavam aquela cena atônitos, ela vira que sua mão estava suja de sangue. 
      Sentiu uma vontade incontrolável de tomá-lo e sabia que, o que acabara de fazer ainda faria muitas outras vezes, pois nunca sentira tanto prazer.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Agorafóbico

     Mais um dia se iniciava. Antes mesmo de abrir os olhos, refleti sobre meu estado de espírito. Estou com medo? Não. Tudo bem, então.
     Levantei-me e estiquei os braços. Estou com medo? não.
     Dirigi-me a cozinha em busca de algo para comer. Minha barriga roncava, e como se por ironia, na geladeira havia apenas uma pizza de molho esverdeado, o qual suspeito que seja uma galáxia de micro-organismo.
     Ir à padaria do bairro era a única saída.
     Retornei ao quarto e abri as portas do guarda-roupa. Uns dez minutos se passaram, e mesmo assim não sabia o que vestir. Ver o tempo e como as pessoas estavam talvez ajudasse. Abri a janela. Estou com medo? não.
     Olhei pela vista do meu apartamento, mas nada adiantou. Talvez houvesse alguém andando na rua, ou talvez não. O fato é que minha janela era voltada para uma área ambiental preservada.
     Uma faísca se acendeu. Havia próximo a minha morada uma área desocupada, susceptível a ser esconderijo de algum psicopata, terrorista afegão, espião russo ou comunista malthusiano. Estou com medo? ... Estou com medo? ... anda, responde logo. Estou com medo?... Minhas mãos começaram a suar. Como se respira mesmo? Ah! inspira, expira, inspira, expira... Estou com medo?... e finalmente constate: não. Ufa! Foi por pouco.
     Peguei meu casaco e dirigi-me à porta. Estava trancada. A chave! Tinha me esquecido dela. Vasculhei meus bolsos e encontrei uma reserva. Deixar meu apartamento fazia meu coração apertar. O que poderia acontecer? Posso ser assaltado, atingido por uma bala perdida, atropelado, cair em um fosso ocasionado por más condições de trens subterrâneos, atingido por um vergalhão! Estou com medo?... Estou com medo? ... não.
     Andei pela rua com cautela. Não vi rostos, roupas ou paisagens. Era tudo um borrão em meio as minhas preocupações. Passei todo o trajeto verificando se estava ou não com medo, e consegui chegar a salvo.
     A padaria Pão com Coisas estava pouco movimentada, como era normalmente. Pedi meu cappuccino e fiquei admirando a paisagem. O sol quente energizava a cidade. Crianças corriam freneticamente em torno da pracinha, deixando suas mães loucas. Bicicletas, carros, motos, vans, ônibus... faziam um alvoroço na avenida principal, ainda que seja pela manhã.
     Poucos minutos depois meu pedido ficou pronto. Dirigi-me ao balcão e um garçom tatuado com uma enorme cicatriz que cortava-lhe o olho e a bochecha direita entregou minha bebida com um olhar fixo e ameaçador. Estou com medo? não.
     Voltei a mesa e encontrei uma faca embebida em uma mistura vermelha escarlate. Estou com medo? No mesmo instante chegou um carro de polícia com as sirenes acionadas. Os militares saltaram do veículo rapidamente e com suas armas em punho, entraram no estabelecimento.
     "Achamos! Achamos! Vem vem vem vem vem", diziam eles. Estou com medo?
     O garçom veio em minha direção, segurando uma segunda faca. Estou com medo?
     Um grito engasgado saiu involuntariamente, fazendo com que o homem se aproximasse mias rápido. Caí no chão, desesperado, berrando.
    Estou com medo?... Inspira. Estou com medo? expira... 1,2... Estou com medo?... 3,4,5... Estou com medo?... Inspira
     Um dos policiais atirou em nossa direção, acertando a nuca do garçom, que caiu sob os meus pés.
     Estou com medo? 6, 7, 8... expira
     Um policial veio em minha direção, me pegou nos braços... 9... e perguntou "O que foi? O que você tem?"
     ...10
     - Medo.

("Jéssica Stewart")

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Maldita

               No dia 6 de junho, às três horas da manhã, nascia a primeira menina da família Dallas, Agatha.  Desde que fora levada para casa, coisas inexplicáveis começaram a acontecer, como barulhos, coisas tiradas do lugar . Nada para se preocupar realmente, até que em uma madrugada, Lúcia, a mãe da pequena, foi acordada por um grande estrondo. Agatha havia sido jogada para fora do berço.
             Na manhã seguinte, depois do grande susto, a mulher ainda com a filha nos braços conta ao marido o ocorrido. Sua reação fora a mais inusitada. Olhou-a fixamente, ficou extremamente pálido e foi embora sem dizer sequer uma palavra. Tarde da noite, Lúcia sentiu um movimento na cama e viu que seu marido deitava.
              -Vitor? - sem resposta e cansada demais para insistir, caiu novamente em profundo sono.
               Por anos, a situação permaneceu-se estável, porém sem melhoras. A família começou a se distanciar. Ninguém queria comentar sobre tudo o que acontecia desde o nascimento da menina.
               Seria o primeiro dia de aula de Agatha. Lúcia estava muito feliz e tinha a esperança de que tendo contato diário com outras crianças a filha poderia ter uma infância relativamente normal diante dos estranhos fatos dos quais nunca questionava.
                 Não havia passado nem uma hora desde que ela tinha deixado a criança na escola quando o telefone tocou:
                 -Sra.Dallas?
                 -Sim, com quem falo?
                 -Queira nos desculpar, mas... - pausa - não podemos ficar com sua filha.
                 - Mas o que? - A linha fora cortada.
                 Chegando à escola, a menina já se encontrava no lado de fora do portão com a mochilinha e um desenho em mãos.
                 -Querida, venha cá. - disse Lúcia estendendo os braços - conta pra mamãe o que aconteceu?
                 -Não foi eu mamãe, juro! - vendo que a mãe não a compreendia, entregou o desenho a ela. No desenho, feito em rabiscos infantis, havia a escola pegando fogo, inúmeras crianças mortas e a repetição da palavra maldita em letras garrafais. O mais estranho de toda a situação é que Agatha ainda não sabia escrever.
                 -Quem fez isso filha?
                 -O papai sabe... - Lúcia tomou a menina pela mão e correu para casa em busca de explicações do marido. Estacionou o carro do lado de fora da casa e nem se preocupou em tirar a chave da ignição. Adiantou o passo subindo as escadas ao pulos.
                 -Querida, vá para o quarto.
                 Chegou atordoada ao quarto do segundo andar assustando o marido ao gritar:
                 -Por que você não me conta? Eu sei que você sabe de tudo! Eu preciso saber... - Lúcia desfaleceu aos pés do marido.
                 Acordou ao sentir as mãos frias afagando seu rosto.
                 -Você tem razão - disse ele com lágrimas nos olhos - eu vou te contar. No século XV, um homem chamado Marlon Dallas brincou com o coração de uma bela jovem, Norma. Ela secretamente praticava bruxaria e ocultismo. Certo dia, ela recebera a notícia de que Marlon casaria-se com a prima e com o coração partido, rogou sob toda a família Dallas uma maldição na qual a próxima mulher Dallas pagaria por seu sofrimento. Durante gerações, fomos contemplados por apenas homens, até que Agatha nasceu.
               -Então você quer dizer que a minha pequena Agatha vai pagar pelos erros de um homem da sua família? Maldito seja! Maldita seja também a tal bruxa! Maldita, maldita, maldita... - A porta abriu uma fresta e a menina surgiu pálida. - Querida? - A menina caiu de joelhos no chão e soltou um grito tão estridente que chegou a estourar as janelas e o espelho do quarto. Houve um silêncio completo.
               A criança olhou para os pais chorando sangue e disse com o que parecia uma dupla voz:
              -Um Dallas provocou, um Dallas vai pagar! - Dito isso, correu a uma velocidade absurda até o pai, agarrando-lhe o pescoço, até que esforços de uma força sobrenatural, atingiu a jugular. A mulher até então atônita, ao ver o marido agonizando até a morte, empurra inesperadamente a menina em direção à janela já quebrada, fazendo-a despencar do segundo andar na grama do quintal. Cacos de vidro que ainda estavam presos na ferragem da janela foram lançados atras dela, atingindo-a bem no peito. Esse era o fim.
 Lúcia em prantos dirigiu-se até o quarto da filha, onde pegou uma foto da família e segurou-a bem forte perto do peito. Cantando uma canção de ninar, foi até o guarda-roupas e trancou-se lá dentro.
            Os vizinhos começaram a sentir falta do movimento na casa e achando estranho o cheiro de podridão que saia de lá, resolveram chamar a polícia local.
           -Tem alguém em casa? - Quando o policial fora bater a porta viu que ela se encontrava aberta. Já dentro da casa, o oficial de policia Scott se encontrava acompanhado de mais dois companheiros de turno, Hanrry e Sam.
            -Um de vocês poderia olhar o quintal e o outro o andar de cima. Vou averiguar os quartos daqui de baixo.
            Os três se separaram e a medida com que iam se afastando do hall de entrada sentiam cada vez mas forte o odor de enxofre. Sam fora até o quintal e lá encontrou o corpo de uma garotinha que aparentava estar ali a algumas semanas. Hanrry deparou-se com o corpo de um homem logo que chegou ao segundo andar. Scott não encontrara mais nada. Quando já ia de encontro aos companheiros para buscar reforços, ouviu o que parecia uma canção de ninar vinda do quarto ao lado.
            -Tem alguém ai? - disse o policial determinado a desvendar de onde vinha a canção. - Está tudo bem, é a policia. - A mulher saltou para fora do armário ao saber que a salvação chegara. Pendurou-se nos braços do policial desesperada. Ela estava visivelmente desidratada e fraca. - "Encontrei uma senhora com vida, além dos reforços, peça uma ambulância." - Disse o policial no rádio comunicador. - A senhora pode me dizer o que aconteceu aqui?
            -Maldita, maldita, maldita, maldita... - era só o que conseguia dizer.
            Lúcia foi levada ao hospital, onde averiguou-se que ela não estava de posse de suas sanidades mentais, sendo assim levada a um sanatório, onde viveu e foi assombrada pelas lembranças até se enforcar usando a própria calça, no dia 6 de junho às três horas da manhã.

("Brianna Morgan")

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Dias

Meus olhos, perdidos no silencioso horizonte observam ao gritante dourado do sol poente que rasga o toque do imenso céu azul nas negras montanhas enevoadas.
Perdido, cá estou, desventurei-me a residir esse mundo fétido, onde tudo está perdido. Sobram apenas os corpos ambulantes sem vida daqueles que um dia foram como eu, iludido. O mundo está doente e estar são já não é mais um escolha. 
            Ao longe, lenta e cambaleante se aproxima uma pobre e maldita criatura, o corpo esguio trajado em panos sujos e rasgados , a face desfigurada por cortes profundos ainda brilha em vivo sangue, fétida e suja, a sombra do crepúsculo da humanidade. Findaria-se assim a humanidade? Findaria-se assim minha vida? As perguntas insolúveis apenas aumentam o tormento da estadia limitada e precária na Terra. Em ruínas se despenca a sociedade. O fim? O fim é inevitável. A criatura ainda anda, seus olhos sem brilho e sem cor já fitam os meus, posso ouvir seus grunhidos, sua boca semiaberta pinga sangue, estica suas mãos podres a mim, sem reação aguardo o derradeiro fim, então, em um instante lembro de uma frase citada por minha mãe nas situações em que sentia medo.
 "Feche os olhos".
            Fechei-os.

Toquei-a nos lábios, toquei-a no nariz, toquei-a nos ombros, toquei-a nos seios. 
           
—Te amo— sussurrei.


            Poderia finalmente amá-la como jamais o fiz, estávamos juntos para sempre, afinal fomos feitos um para o outro.

            Beijei-a.


            Acariciei seus cabelos negros, alisei sua pele aveludada e limpei ao sang...


            Lágrimas caíram de meus olhos marejados, minhas mãos começaram a tremer, minha mente voltava á sanidade e o terror disseminara-se sobre mim.


            Jazia ali a dona do canto mais profundo, obscuro e belo do meu coração, jazia ali aquela que amei com todas as forças que tive, jazia ali a criatura mais doce que residiu esse mundo podre, o amor que cultivei por toda uma vida, em vão, jamais fui correspondido.
Matei-a, da forma mais cruel, os seus olhos sem brilho fitavam o vazio, seus lábios semi-abertos exalavam o terror que sentiu, a pele pálida tão gelada como nunca antes. O agouro de ama-la perpetuara-se em meu coração no momento em que tirei dela oque lhe era de mais precioso.

 A vida.

Sedução


              Estava tudo muito calmo até aquele momento. Camille havia acordado a pouco e preparava-se para sair com o namorado novo. Era seu primeiro encontro com ele, que conhecera em um restaurante a alguns dias, e ela desejava se fixar naquele relacionamento de vez e engatar um noivado a partir dali. A sociedade a comprimia para tal e o resto do mundo parecia conspirar contra ela.
      Tomou o banho como faz todos os dias.
      -Tenho que estar deslumbrante! – Pensou.
      E foi de encontro ao espelho. Curioso que aquele objeto tão insignificante pudesse despertar tantos sentimentos nas pessoas. Algumas delas, ficam tristes quando pensam naquela sobra de pele ao lado da barriga. Outros adoram se olhar no espelho. Os narcisistas se amam tanto que podem ficar horas e mais horas se olhando à frente dele.
      Como sempre, ela decidiu usar algo menos ousado, que a deixasse bonita, mas sem esbanjar muito. Se trocou e depois voltou-se ao espelho.
      Aquele instrumento maravilhoso servia, para ela, mais do que para observar-se, e sim como uma forma de devanear sobre as questões da vida. Muitas vezes, Camille postou-se a frente do espelho e deslumbrou-se com a figura que via refletida. Quanto ela havia crescido desde o seu último namorado! Agora ela sentia-se muito feliz ao lado daquele rapaz, tanto que aquele dia de encontro seria muito especial.
      A campainha tocou quase que imediatamente após o fim daquela contemplação individual de Camille. Era Joe Rogers, seu mais novo affair.
      -Oi amor, como vai? – Questionou o homem.
      -Ansiosa e apreensiva, mas satisfeita por estar ao seu lado. – A moça sorriu carinhosamente e depositou delicadamente as mãos sobre as do rapaz. – Desculpe-me se estou sendo ousada demais, mas eu posso dar-te um beijo?
      Apesar da pergunta, ela não esperava uma resposta verbal, mas assim um longo e demorado beijo entre namorados. Da última vez, ela teve a certeza de que sua timidez aa havia atrapalhado.
      O rapaz se assustou um pouco, mas logo cedeu ao pedido e tascou-lhe logo um terno, mas atrapalhado beijo de amor.
      -Obrigada. – Ela afirma, corada.
      -Obrigada porque? – O rapaz deu um sorriso com o canto da boca, que foi respondido com mais um beijo, desta vez por iniciativa dela.
      -Por estar ao meu lado. – E olhou para ele, com pequenas lágrimas escorrendo dos olhos.
      -Sempre estarei, Camille.
      A mulher então resolveu voltar ao quarto para retocar a maquiagem.

      Aquele banheiro alvo e cuidadosamente limpo poderia suportar um time inteiro de futebol, visto que era tão espaçoso quanto a própria dona da casa, e exalava um perfume tão delicado quanto uma rosa. Na verdade, rosas eram as flores preferidas da mulher.
      Camille ainda podia sentir aquele vapor que emanava do local, um calor aconchegante e estupidamente sensual, despertando corpo e alma para mais algum tempo de vida, sempre com algum toque de sedução.
      E o espelho continuava embaçado, como se a água esperasse a mulher para escorrer vidro afora.
      Certamente ela teria que pegar uma toalha para limpá-lo, ao passo que agarraria o estojo de maquiagem para recompor-se visualmente daqueles dois primeiros beijos que seu mais novo namorado lhe dera.
      Decerto que seu coração não pararia de palpitar por um longo tempo depois daquilo. Lá no fundo, ela queria mais e mais. Podia olhar-se no espelho e ver sua  sensualidade aflorando naquele corpo, com uma animação grotesca e instintiva.
      Então, em um súbito acesso de euforia, ela pegou o batom mais provocante que tinha, de cor carmim, tão escuro quanto o sangue, de nome Sedução, e passou-o, delineando aqueles lábios carnudos e provocantes.
      Como se não bastasse , Camille ainda resolveu mudar de vestido para algo mais provocante, e um tomara que caia negro como a noite, cravejado de minúsculos cristais, foi colocado, com comprimento substancialmente longo; contudo, uma abertura ousada cavada desde os pés até o final das coxas, como se ela fosse mesmo “cair para matar” , no ditado popular.
      Neste ponto, os psiquiatras poderiam até dizer que ela estava louca, mas na verdade, ela estava era perdida de amores por Joe.
      E não queria encontrar-se.
      Prostrou-se à frente do espelho, fez uma pose que valorizava suas curvas quase esculturais e tirou uma selfie com seu smartphone virado para o espelho, mas não teve tempo suficiente para conferir o resultado de seu trabalho individual de contemplação , e foi logo postando a foto em seu Instagram.
      A buzina do carro de Joe soava agora, e por duas vezes a mulher ouviu-a antes de se tocar que estava a tempo demais ali, e que não era nada romântico deixar um homem sedutor esperando-a sozinho lá embaixo, na rua, visto que uma outra qualquer podia passar por ali e tirá-lo de Camille.
      Ela conferiu novamente seu reflexo e disse para si mesma, convencida de seu charme:
      -Você está tão bonita!
      E desceu um lance de escadas após o outro, porque o salto finíssimo que ela calçara exigia certo equilíbrio. Um tombo na frente daquele garanhão não seria bem visto.
      Antes mesmo de chegar próxima ao carro dele, ela já retomara a pose e exibiu toda a sensualidade que ela guardara por anos a fio, intríscecamente, consigo, e agora soltava-a como uma fêmea no acasalamento.
      E do outro lado daquela calçada de pedras, Joe a esperava, boquiaberto e tão espantado que nem uma plateia de filmes macabros poderia estar.
      -UAU! – O homem parecia realmente transtornado.
      “Exagerei?”, pensou Camille, corada.
      -Você está linda, meu amor. – Joe aproximou-se. Seu perfume amadeirado e másculo misturava-se com a doce fragrância de rosas de Camille. – Ah, e a propósito, rosas são as flores do amor.
      Camille sentiu-se quente por dentro. “Então é assim tão bom estar apaixonada?”, ela pensou, talvez um pouco alto demais.
      -Você nunca ficara apaixonada antes, meu amor?
      Ela fez que não com a cabeça.
      -Na verdade, já namorei outros caras antes, mas nunca senti algo tão forte assim. – Ela olhou-o novamente no fundo dos olhos.
      -Beije-me.
      Joe repousou ambos os braços sobre os ombros de Camille. Agora os dois estaavam bem mais perto e mais conectados do que da primeira vez que se beijaram, minutos atrás.
      -Como assim? – A garota questionou.
      -Somente beije-me.
      Joe inclinou o pescoço para a frente e repousou os lábios sobre a testa da garota, acariciando-a nos cabelos pesados. Uma onda de tremores subiu pela espinha dela, e ela delicadamente conduziu os lábios do rapaz até os seus, completando aquele que seria o beijo mais acalentado e apaixonado de todos os tempos.
      Durante longos minutos eles ficaram ali, unidos de alma e corpo, até que Camille afastou-se um pouco, deixando o homem sem entender o que realmente acontecia.
      Ela subitamente lembrou-se que nunca havia beijado alguém tão apaixonadamente assim. Aquele beijo tinha deixado-a sem ar, e ela sentia-se embaraçada por isso.
      -O que foi?
      -Nada. – A moça mentiu.
      -Vamos então?
      E conduziu-a rumo àquele lindo, elegante, imponente e luxuoso Honda, branco como uma  pérola.

      O jantar estava tão maravilhoso que a moça não percebeu a hora passar.
      Já por volta de uma da manhã, o casal havia parado ao lado de um lago com águas turvas e negras, que refletia a luz do luar, que especialmente naquela noite estava tão linda, com aquela Lua redonda e brilhante no céu.
      Uma névoa rala e fria passou pelo local onde eles estavam, e Camille teve de se aconchegar nos braços de seu novo namorado.
      -Camille?
      -Oi?
      -Posso te chamar de Luna?
      -Porque Luna?
      -Para marcar para sempre em nossas memórias que, no dia em que ficamos oficialmente namorados, a lua brilhava romanticamente no céu.
      -Que lindo! – A mulher deu-lhe um beijo, retribuída com uma aliança de ouro e diamantes.
      -Aceita ser minha namorada?   - Joe estendeu a joia para a mulher.
      -Claro! – Camille estava ofegante.

      O que aconteceu no resto da noite é totalmente dispensável.

      No outro dia, pela manhã, o telefone da emergência policial tocou.
      -Delegacia de polícia, bom dia.
      -Desejo comunicar o desaparecimento de Joe Hudison Rogers.
      -Qual a última vez que o viu?
      -Ontem à noite.
      -Sua relação com ele?
      -Namorada.
-Seu nome?
-Luna.
      -Mandaremos logo uma viatura para te auxiliar aí.
      -Obrigada, pois estou desesperada.
      -Acalme-se, que já iremos a sua ajuda.
      -Sim. Na verdade... – A mulher parou por algum tempo, absorta, depois mentiu. - ...eu já ouço a viatura, bem ao longe. Acho que já posso desligar.
      -Fique bem e bom dia.
      -Obrigada.

A boneca de cera

Todas as noites, Christina fazia questão de dar “boa noite” à Alice, sua linda boneca de cera.

A garota, de sete anos, pedira certa vez à sua mãe uma boneca que se parecesse com ela: De traços finos e meigos, cabelos loiros e curtos, além de uma pequena bochecha rosada e lindos olhos azuis. Quanto às roupas, foram encomendadas três: Um pequeno vestido rosa com bordados de renda na barra, um segundo vestido, desta vez maior e amarelo, com uma manga igual à dos contos de fadas. Havia também um terceiro vestido, que era menor e bem colado ao corpo, mais moderno e simples, da cor do sangue, que parecia esbanjar sensualidade. Este, por ser bem mais ousado, a mãe de Christina guardou-o assim que chegou.
No dia em que a boneca encomendada chegara, a menina pegou-a e instantaneamente ninou-a, como se fosse sua filha. Sua expressão delicada parecia por um momento ter se tornado algo tenebroso e macabro, mas somente por um momento, quando a menina olhou novamente e a boneca estava ali, gentilmente esperando pelos afagos.
-O nome dela será Alice. – Christina disse à sua mãe, com um sorriso no rosto. – Em homenagem à minha amiga da escola.

No outro dia, as aulas foram suspensas. A menina Alice tinha se afogado em uma piscina durante a noite, com a causa daquilo tudo desconhecida. Por que ela iria para o lado de fora em plena madrugada? Ninguém conseguia deduzir.
A mãe de Christine decidiu não falar com ela sobre o acontecido, visto que as duas meninas eram muito próximas.
Mas Christine parecia entender tudo aquilo, e disse carinhosamente para sua mãe:
-Não se preocupe, mamãe. Alice continuará aqui comigo. Ela se tornará minha boneca e ficaremos felizes para sempre.
A mãe não gostou nada da fala da filha. Tempos depois, escondeu-a em um armário e torceu para que a filha esquecêsse de tudo aquilo. Apesar do choro da menina Christine, a mãe dela não deu o braço a torçer e manteve a boneca dentro do armário.
-Boa noite, querida. – A mãe deu um beijo na filha e colocou o cobertor sobre ela.
-Eu quero a Alice. Ela precisa de mim para dormir. Eu tenho que dar boa noite à ela. – A menina disse, com os olhos ainda vermelhos de tanto chorar.
A mãe não respondeu. Deu outro beijo na menina e apagou as luzes.

O sol estava brilhando no céu quando Christine acordou.
-Bom dia! – Disse a menina.
A boneca Alice estava na prateleira, cuidadosamente colocada. Um ursinho ao seu lado tinha caído no chão, assim como diversas peças de Lego que antes formavam um castelo.
                Parecia que Alice queria falar algo com Christine, mas como era uma boneca, não tinha como fazê-lo. Enquanto isso, a boneca olhava fixamente para ela, com aqueles pequenos e obscuros olhos azuis.
                Alguns minutos depois, a mãe de Christine chegou ao quarto.
                -Bom di... – Ela vira a boneca na prateleira. – Chris, foi você que a trouxe para cá? – Depois de perguntar, a mãe viu que não tinha outra opção. Ela teria vindo sozinha? Claro que não. – Deixa.
E pegou novamente a boneca, colocando-a no armário. Pareceu não notas algumas estranhas marcas de unhas no interior do móvel, pois passou direto por elas e depositou a pequena boneca por ali, que parecia ter chegado com o batom borrado e a maquiagem desfeita, como se ela tivesse chorado. Trancou o armário mais do que rapidamente.

Aquela noite foi absurdamente anormal.
Primeiro, a mãe de Christine, Mary, pensou ter ouvido uma baixa voz que clamava por ajuda. Depois, o barulho de unhas arranhando algo bem fino, quase que um giz passando pelo quadro. Por fim, o som de passos no corredor.
Na outra manhã, a boneca estava no quarto de Christine novamente.
Aterrorizada, a mãe da menina já preparava-se para pegar a boneca quando a menina acordou, e lentamente disse:
-Deixa ela aí, mãe. Ela me faz companhia.
A mãe respondeu-a sem palavras, somente com um olhar de reprovação.
-Não.
-Por favor...
-Não.
-Por favor...
-Não e não.
E retirou-se do quarto.
Foi imediatamente contar ao marido sobre a boneca e sobre ela todas as noites estar na prateleira da filha. O homem não acreditou nela, e disse que a filha tinha o direito de ficar com a boneca.
Nem precisou levá-la a filha. Tinha a deixado em cima da mesa da cozinha, mas, ao passo que foi conversar com o marido, a boneca tinha voltado às mãos da menina.
Por semanas, tudo ficou normal.
Até que um dia, a noite, quase na hora de dormir, a mãe escutou uma canção de ninar, bem ao longe, vindo do quarto da filha. Aos poucos, foi se aproximando do local. Ao chegar, viu que a boneca estava sentada junto à menina, as mãos das duas estavam unidas, e a música foi se intensificando, mas não era Christine que estava cantando. Era a boneca.
Desesperada, a mãe arrancou a boneca das mãos da menina, que chorou muito; e muito alto. O pai da menina chegou, correndo. Ele também ficou muito preocupado ao ouvir da mulher o que havia acontecido.
A mulher correu com aquela boneca de cera dependurada pelas mãos. Naquele dia, o vestido vermelho estava bem colado ao corpo da boneca. A mãe ficou mais desesperada ainda.
Uma pá foi usada para cavar um buraco relativamente raso, do tamanho de uma caixa de sapatos. A boneca foi jogada ali e muita terra foi posta em cima.
Um crucifixo imaginário foi feito pela mãe da menina, implorando por um pouco de paz.

Anos e anos se passaram desde aquele dia, em que a família viveu feliz e unida, livres da boneca de cera. Se mudaram algum tempo depois, e uma nova família foi para o local.
A nova família era composta por um casal e um filho, que não tinha bonecas. No dia da mudança, estavam todos jantando calmamente e de maneira muito aconchegante.
Alguns minutos depois, o filho vai ao seu quarto para dormir, e rapidamente chama sua mãe para tirar uma dúvida:
-Mãe? Eu não gosto de bonecas. Tem uma aqui na prateleira de meu quarto, e ela parece estar olhando para mim.

A boneca de cera havia voltado.

domingo, 11 de maio de 2014

O que é o medo?



Todos temos medo. Medo de amar, medo de sofrer, medo de altura, medo de aranhas, insetos, de morrer, palhaços, espelhos, de sentir medo. Mas afinal, o que é o medo?
Medo é aquele frio na barriga, é aquele gelo na espinha, é aquele aperto no coração, é aquela voz na sua cabeça que te impede de fazer algumas coisas.
“Não faça!”
“Ansiedade diante de umma situação desagradável. Sentimento inquietante que se tem diante de perigo ou ameaça.” – Diz o dicionário.
Mas o medo é muito mais.
O medo paralisa, congela, arrepia, aturde, suspira, apavora, mata e faz matar.
Ter medo é ser impotente diante de certas situações na qual se deveria ser corajoso. A falta de medo é a coragem, mas ter medo não é ser covarde. Pelo contrário, somente homens de verdade admitem seu medo.

Não tenha medo de ter medo. É natural. Mas não tenha medo de tudo. O medo pode te salvar, mas ele também pode estragar tudo.