A estalagem
Marie, mesmo atordoada com o momento que acabara de
viver,reuniu forças,deu costas a Calvin e bateu em retirada rumo à estação de
ônibus. Ao chegar lá,soube que o mesmo já havia saído,portanto ela teria que
permanecer mais um dia naquela cidade,visto que o próximo ônibus somente sairia
às 9 horas da manhã do dia seguinte.
Logo a jovem ficou amargurada pela dor de ser tratada
como uma qualquer.Aquilo doía nela mais do que uma faca que transpassa a
pele,uma dor incurável e insaciável, que fazia queimar suas entranhas em um
burburim intenso de sensações deprimentes. Ah! Como ela queria esquecer tudo
que havia se passado e começar uma nova vida, mas naqueles tempos não era muito
bem aceito o divórcio, e a culpa sempre recaía sobre a mulher. Que desgosto!
Aos prantos e fraca de tanto chorar, a garota
resolveu buscar algum abrigo, porém o dinheiro fora levado por Calvin e a ela
só haviam restado alguns trocados, que mal davam para uma refeição.Somente lhe
restava dormir na rua.
Procurando muito pelos bairros de Bruxelas, ela
finalmente conseguiu encontrar uma estalagem barata para tomar uma “sopa de
pedras” e alguns poucos goles de água que de nada serviram para hidratar sua
garganta, que ardia mais do que um deserto ao meio dia.
Por fim, a dona da estalagem ficou comovida com a
situação da moça e cedeu-lhe um cômodo para passar a noite em troca de alguns
serviços especiais que ela somente saberia depois. A jovem prontamente se
ofereceu para dormir ali em troca do serviço, que ela julgou ser fácil como a
de lavadeira, passadeira ou arrumadeira, porém era muito além do que a frágil
mulher poderia imaginar.
***
Cerca de uma hora depois, a dona da
estalagem entrou no quarto em
que Marie estava e deixou duas caixas fechadas que ela falou
que eram roupas. A sopa que Marie tanto aguardava ficara pronta a pouco e a
mulher aproveitou para chamá-la:
-Querida,
está na hora do jantar, vamos comer? Aproveite que a sopa ainda está quente e
está no início, quem sabe você não consegue fisgar um rapaz lá em cima? Olha
que esse lugar sempre é muito movimentado, e hoje está especialmente
esplendoroso! Ande logo e não se atrase, pois precisamos que você tenha muita
energia para essa noite - Riu baixinho a mulher e saiu do quarto. Boa sorte, porque você precisará!
Marie não entendeu nada.
A moça preparou-se como sempre, e
mesmo na amargura ela tentou ter um pouco de classe. Mais cedo a dona da
estalagem dissera que seriam entregues também algumas roupas para que ela
usasse à noite, e a jovem viu que não lhe faltavam motivos para abusar da boa
vontade da mulher, pois suas roupas tinham se encardido um pouco para serem
usadas para dormir ou sair. Poucos minutos depois, Marie viu-se imersa naquele
caixote de madeira, que lembrava uma caixa de fantasias, procurando pela roupa
ideal.
Após algumas trocas de roupas, a
menina ficou satisfeita com aquilo que via no espelho, e resolveu que era hora
de ir jantar.
Ao subir as escadas que a levavam
para o salão onde eram servidas as sopas, ela percebeu que várias outras
meninas, mais exatamente cinco, também subiam para a sala.
As seis garotas se entreolharam e
trocaram olhares desconfiados. O que elas estavam fazendo ali, ao mesmo tempo e
com roupas quase que idênticas? Essa foi a pergunta que ressoou na cabeça de
várias delas naquele instante.
Logo as garotas já haviam chegado ao
salão onde seria servida a sopa, e cada uma dirigiu-se a uma mesa diferente, e
mesmo que muitas delas estivessem ocupadas por alguns poucos homens
encapuzados, todas conseguiram lugares reservados.
A “sopa de pedras” foi servida
quente e acompanhada de um chá quente. Marie tomou-a com vontade, pois estava
realmente faminta. O chá acabou em um minuto, e a jovem pediu outro, sendo
prontamente atendida.
***
Porém, o que nenhuma delas reparou é que a dona da
estalagem conversava incessantemente com cada um dos encapuzados que estavam
nas mesas ao lado delas, e que pareciam negociar algo. Uma discussão se formou
em um canto do salão, em que dois homens discutiam com a dona em um tom muito
alterado e fora de cogitação para uma estalagem. Por fim, os dois chegaram a um
acordo amigável e eles foram mandados para os fundos, de onde as moças tinham
vindo.
***
Marie voltara cedo para o quarto, pois já se
satisfizera somente com um prato de sopa e duas xícaras de chá, porém demorou
um pouco a voltar a seu quarto porque ficou a conversar com algumas outras
jovens que estavam ainda tomando sopa.
-Prazer, meu
nome é Marie- disse à uma moça loira que estava finalizando o primeiro
prato de sopa- vim de um vilarejo no
interior da Bélgica, e fui largada pelo meu marido aqui sem dinheiro. Tenho uma
casa em Paris, e você?
-Infelizmente,
sou órfã há poucos meses e já fui largada às traças pela minha família. Sou
daqui de Bruxelas mesmo, porém me cansei de ser abusada pelo meu irmão, ele é
cinco anos mais velho que eu e mesmo antes de meu pai morrer ele já fazia
certas coisas que eu não gosto. Agora, na última semana, ele tentou me
estuprar. Isso para mim foi o estopim. Creio que nunca mais o verei, seja por
raiva, seja por falta de dinheiro -
Algumas lágrimas rolaram pelas bochechas rosadas da mulher- Nos últimos dias, passei muita fome, até que
encontrei essa caridosa dona desta estalagem e ela me ofereceu abrigo, roupas
limpas, água e comida em troca de um serviço especial que eu nem hesitei em
aceitar.
-Eu também- Acrescentou Marie- A propósito, qual o seu nome?
A garota respondeu confiante:
-Pauline, e o
seu?
-Marie,
prazer.
-Prazer.
Tenho certeza que seremos grandes amigas, minha cara.
-Que Deus te
ouça, Pauline - Completou Marie.
***
Após se despedirem e marcarem de se encontrarem ali,
no outro dia, no mesmo horário, cada garota rumou ao seu quarto tranquilamente
e preparavam-se para dormir.
Contudo, Marie teve um susto muito grande ao abrir a
porta de seu quarto e ligar a lamparina, para iluminar melhor o quarto. No
cabide havia duas capas masculinas penduradas. De um lado, também estavam duas
calças masculinas de cor escura, um chapéu preto, e uma veste íntima para os
homens. Meio que jogados no chão, estavam dois pares de sapatos pretos, de bico
longo, e bem lustrados.
Marie estranhou-se, e virou-se para a porta, pois
achou que havia confundido de quarto, e no exato momento em que ela encostou-se
à maçaneta da porta, ela ouviu ao fundo uma voz falar com ela:
-Espere um pouco garota, venha até aqui.
A jovem então se virou abruptamente, com o coração
batendo rápido, e deparou-se com uma cena chocante: Em pé, ao lado da cama de
madeira, se encontrava um homem, despindo-se de sua peça íntima, e já deitado
na cama, encontrava-se outro homem totalmente nu.
Era ele quem havia chamado sua atenção, e quem falava
novamente:
-Vejamos o que temos aqui, Charles.
Marie tentou gritar, porém o homem que estava de pé
foi mais rápido e a impediu de emitir qualquer som. Nesse momento, a lamparina
iluminou o rosto do homem que falara com Marie, que ela julgou reconhecer sua
voz.
-Muito bonita por sinal. Essa noite será uma festa.
Não concordas Calvin?
Marie congelou-se. Era seu marido que estava naquela
cama nu e deitado, esperando por uma noite maravilhosa ao lado de uma mulher. E
estava acompanhado por seu melhor amigo, Charles, também casado.
Definitivamente a última cena que ela esperava ver, porém não teve tempo de
fazer mais nada, pois as mãos grossas e fortes de Charles a apertavam
firmemente, e Calvin levantou-se grotescamente para consumar o ato.
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