Abri as páginas empoeiradas
do livro de 1970 com cuidado, esperando por uma literatura ultrapassada e
extraordinariamente entediante. Surpreendi-me com a destreza de James Hilton.
Conway, Mallisson, Barnard e
Ms. Brinklow viajam de avião em meio a uma guerra famosa do século XX. O que
não esperavam era que sua viajem já começara predestinada a se extinguir antes
que pudessem admirar a linha do horizonte se perdendo sobre as montanhas
tibetanas em Karakal. O por do sol revela aos viajantes uma paisagem
estonteante, e o mar sem ondas paralisa-os perante tamanha beleza.
É neste momento que o avião
em que estão começa a perder altitude, em virtude das ações libertinas do
capitão, e os cinco caem nos entremeios dos vales da montanha. O tibetano morre
com a queda e deixa os estrangeiros ilhados no meio de muita neve e de
desfiladeiros traiçoeiros.
Até aí, uma história
qualquer, porém ao chegar do lama Tchang, a história dá reviravoltas como em um
redemoinho agitado. Perambulam, perdidos, até que uma construção imponente
desponta por entre as montanhas, revelando que poderiam esperar por hora. O que
não sabiam os quatro viajantes é que sua viajem estava longe de terminar.
O mosteiro de Shangri-lá era
uma dádiva no meio daquele furdúncio, certamente uma ilha de mistérios dentro
do Vale da Lua, assim como lhes fora falado. Curiosamente, nenhum lama exceto o
próprio Tchang aparecera, mesmo após três dias hospedados com toda a comodidade
do lugar.
E já se cogitava estender a
estadia dos visitantes.
Repleta de aventuras e
segredos escondidos, a história cativou-me de tal forma que viajei junto a
Conway para encontrar o lama superior, aventurei-me junto à Ms. Brinklow na
biblioteca do mosteiro, e vivi as aflições de Barnard e Harrisson junto ao
afastamento total da sociedade. Pude contemplar a vida pós-morte e o Nirvana de
forma tão intensa que praticamente me senti um dos lamas daquele incrível
lugar.
Principalmente com a previsão
assustada e certeira do lama superior, que me deixou boquiaberto. Transcrevo
aqui um trecho desta comovente passagem:
“Ser brando e paciente, velar pelos tesouros do espírito, presidir com sabedoria e sigilo enquanto a tempestade ruge lá fora. [...] Será uma tormenta, meu filho, como jamais o mundo viu outra igual. Não haverá segurança pelas armas, nem auxílio dos poderosos, nem resposta da ciência. Rugirá até que todas as flores da cultura tenham sido empezinhadas e todas as coisas humanas se nivelem num vasto caos. Tal foi a minha visão quando Napoleão era ainda um nome desconhecido. E continuo a vê-la, mais clara a cada hora que passa. Pode dizer que me engano?”
Somente Shangri-lá poderá
responder esta pergunta, e quem sabe desenterrar o tesouro do meio do Karakal,
escondido na neve.
Dados da obra
Nome : Horizonte Perdido
Autor:James Hilton
ISBN: 8588386062
Ano: 2002 / Páginas: 207
Idioma: português
Editora: Claridade
Nota: 4,5/5
O autor, James Hilton
resenha por André Luiz
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