Ela era uma jovem poetiza . Ele, um músico em ascensão. Ambos viam o mundo com todas as suas tonalidades exuberantes diariamente ignoradas pelas pessoas cujo coração já não mais pulsava vida; pareciam compartilhar a mesma paleta de cores.
Quando, de repente, o mundo se vestia de tons sépios, ela colocava os fones de ouvido para se esconder, ele usava seu violão para pintar tudo o que estivesse vulnerável ao som dos seus acordes. Ela tinha medo das próprias limitações e dos erros que cometia, por isso criou um mundo para se refugiar; ele, cansado de tanto cair, aprendeu a lutar contra o que o subjulgava. E assim sobreviviam.
Ela era insegura e sempre gostava mais dos outros do que de si mesma. Ele era autoconfiante, transmitia segurança em atos simples como o sorriso e o aperto de mão. Ela era gentil e graciosa. Ele tropeçava até no vento. Ela era discreta, usava roupas em tons escuros, não gostava de chamar muita atenção. Ele era extravagante, andava na moda com suas roupas coloridas e divertidas. Mas ambos tinham o sorriso verdadeiro, contagiante e caloroso em comum.
Comunicativos, cativavam qualquer um, e em pouco tempo já conseguiam colorir a vida de alguém. Consolavam, aconselhavam, alegravam... sempre buscando um jeito de satisfazer quem estivesse por perto. Encontraram a si mesmos na arte: Ela escrevia, ele cantava. Ambos encantavam.
Contudo, eles não se conheciam.
Um dia qualquer, esbarraram-se em um desses estranhos e tortuosos caminhos que a vida traça. De início não perceberam, mas assim que seus olhos se encontraram descobriram, em segredo, que seus meios-corações se encaixavam feito quebra-cabeças. Quiseram dizer um ao outro o que estavam sentindo, mas não podiam: eram egoístas demais. Não entregariam seus meios-corações a alguém que não estivesse disposto a fazer o mesmo.
Não tinham como saber que estavam errados e preferiram não arriscar. Trocaram apenas um meio-sorriso tímido. Ela pegou seu fone de ouvido, totalmente desconsertada, afastou o pensamento e continuou a seguir seu caminho. Ele a observou partir e não fez nada a respeito. Construíram um abismo entre si e não sentiram falta daqueles meios-corações que param de pulsar.
("Jéssica Stewart")
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