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quinta-feira, 14 de abril de 2016

RESENHA - O menino do pijama listrado

A inocência e curiosidade de uma criança e sua capacidade de amar incondicionalmente. A realidade de "O menino do pijama listrado", eufemisticamente.

     John Boyne usou quase que uma fórmula secreta para escrever o livro. O narrador observador conta toda a história do ponto de vista de Bruno, um garoto de apenas nove anos - o que auxiliou o escritor poupando-o de escrever muitos detalhes - uma vez que, nessa idade, não há tanta percepção de tempo e espaço. Talvez seja por isso que a obra acabou ficando muito mais leve, dentro de todas as histórias terríveis que se lê e ouve falar sobre o período do Holocausto. 
     A história se passa no Campo de Haja-Vista (coincidência a semelhança sonora com Auschwitz), na Polônia. Bruno é obrigado a se mudar de Berlim devido ao emprego do pai, um comandante do exército nazista, para uma casa solitária próxima ao campo de concentração. Contudo, a vida na nova residência acaba se tornando muito mais monótona e assustadora do que Bruno poderia imaginar. 

“Eu quero ir para casa”, disse Bruno. Ele sentia as lágrimas se acumulando nos olhos, e o que mais queria era que o pai percebesse quão horrível era aquele tal de Haja-Vista e concordasse que era hora de ir embora. “Você precisa entender que já está em casa”, disse ele em vez disso, desapontando Bruno. “E assim será pelo futuro previsível.”  

    Sem amigos, vê-se obrigado a "explorar o território" em busca de aventuras. Certo dia encontra Shmuel, um menino que vive do outro lado da cerca, que acaba virando seu "novo melhor amigo". Bruno não sabe, mas Shmuel é judeu e está recluso em um dos mais assustadores campos de concentração da Polônia. Não consegue enxergar que adiante estende-se tamanha crueldade e brutalidade do regime nazista.



"Depois de andar durante quase uma hora e já sentido alguma fome, ele pensou que talvez bastasse de exploração para um dia e que seria boa idéia dar meia-volta. Entretanto, bem nesse instante, um pequeno ponto apareceu na distância, e ele estreitou os olhos para tentar descobrir o que era.[...]
     Porém, enquanto pensava, seus pés o levaram, passo a passo, cada vez mais perto do ponto na distância, que nesse meio-tempo havia se tornado uma mancha, dando, dentro em pouco, todos os sinais de se transformar numa forma. E logo depois disso a forma se tornou um vulto. E então, conforme Bruno chegava ainda mais perto, ele viu que não era nem ponto nem mancha nem forma nem vulto, e sim uma pessoa. 
     Na verdade era um menino.[...]
     “Olá”, disse Bruno. 
   “Olá”, disse o menino. 
    O garoto era menor do que Bruno e estava sentado no chão com uma expressão de desamparo. Ele vestia o mesmo pijama listrado que todas as outras pessoas daquele lado da cerca, e um boné listrado de pano. Não tinha sapatos ou meias, e os pés estavam um pouco sujos. No braço ele trazia uma braçadeira com uma estrela desenhada."
     Devido à inocência de Bruno, o leitor sente a crueldade e as mazelas do campo de forma amenizada, o que torna o livro bastante agradável de se ler em grande parte da história. Cabe ao leitor perceber o ambiente hostil visto pelos olhos do garoto e, nas entrelinhas, o que uma mente de nove anos não consegue compreender.
         “Então, um dia vieram os soldados e seus gigantescos caminhões”, continuou Shmuel, que não parecia muito interessado em Gretel. “E todos tiveram que deixar suas casas. Muitas pessoas não queriam ir e se esconderam em qualquer lugar que puderam encontrar, mas, afinal, acho que pegaram todos. E os caminhões nos levaram a um trem, e o trem...” Ele hesitou por um instante e mordeu o lábio. Bruno pensou que ele ia começar a chorar e não entendeu por quê. 
        “O trem era horrível”, disse Shmuel. “Havia muitos de nós nos vagões, para começar. E não havia ar para respirar. E o cheiro era terrível.” 
         “Mas isso é porque vocês estavam amontoados num único trem”, disse Bruno, lembrando-se dos dois trens que vira na estação no dia em que deixou Berlim. “Quando viemos para cá, havia outro trem no lado oposto da plataforma, só que ninguém parecia vê- lo. Foi neste que nós entramos. Você devia ter subido neste trem também.” 
          “Acho que não seríamos admitidos”, disse Shmuel, balançando a cabeça. “Não podíamos sair do vagão.”
       O livro é bem pequeno, com apenas 186 páginas. Os capítulos não são muitos longos (em média, são nove páginas), o que facilita a leitura e, sem sombra de dúvidas, trata de forma eufemística os acontecimentos terríveis do período do Holocausto. Para nós, leitores, acaba deixando ao mesmo tempo a leitura um pouco menos "pesada" e densa, ao passo que aprofunda nossas divagações sobre toda a mudança de ideologia que os nazistas conseguiram perpetuar. Bruno, por mais que ainda seja uma criança, por ser filho de um militar aliado ao regime, acaba por desenvolver os mesmos hábitos de seus pais, e o embate de mundos com Shmuel consegue abalar seu frágil entendimento de mundo.
      Tudo isso sem nem ao menos transpassar a cerca de metal que os separava.
    Seria interessante o uso dessa obra na grade escolar. Os eventos do nazi-fascismo são estudados normalmente no nono ano do Ensino Fundamental II, sendo assim, pode ser usado como trabalho integrando várias áreas do conhecimento. O tema do livro é interessante e a leitura, bem fácil, algo que agradaria aos alunos e os estimularia a ler. 
       É impossível não se emocionar com "O menino do pijama listrado", visto que Boyne constrói em seu livro dois personagens tão reais que chegamos a sofrer junto a Shmuel, e nos questionamos sobre nossa própria realidade, como fez Bruno. É essencial reconhecer que o regime nazista foi uma reunião terrível da crueldade humana e da discriminação, mas que foi crucial para romper com tabus sobre o preconceito e cravar na sociedade ocidental os pilares da igualdade de gênero, raça e credo.

por "Jéssica Stewart" e "André Luiz"
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DADOS DO LIVRO(SKOOB)


O Menino do Pijama Listrado


ISBN-13: 9788535911121
ISBN-10: 853591112X
Ano: 2007 / Páginas: 186
Idioma: português
Editora: Seguinte
Autor: John Boyne(Foto)

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