Alisou o violino Stradivarius como e fosse o filho recém nascido. Sentiu o cheiro da madeira fresca e as ranhuras imperfeitas que a natureza trazia ao instrumento, feito artesanalmente e com muito esmero. Abraçou-o com afeto, deslizou os dedos pelas cordas ásperas de metal e vibrava junto às notas que tirava do violino. Repousou-o sobre os ombros e abriu o livro de partituras, buscou, na última folha uma lírica de nome Vita mia. Ligou o holofote e entrou no brilho da luz. "Hão de lembrar-se de mim". Pensou, antes de tocar sua última nota, seca e gélida. Um clarão invadiu seus olhos. Abriu os braços como um anjo e ascendeu aos céus, deixando uma poça bordô em seus pés. O violino que produzira com tanto esmero tornara-se um monte de ferro e madeira retorcidos.
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