Vi-me correndo em uma campina graciosa, quiçá encantada. As flores, de várias espécies e cores diversificadas cobriam todo o chão, exalando um perfume doce. Borboletas cobriam o ar à medida que meus pés, descalços, tocavam o chão. Simpáticas, voavam ao meu redor, roçando em minha pele e provocando uma gostosa sensação. Abri meus braços e me virei para o céu, agradecendo a Deus pelo momento maravilhoso que estava me proporcionando. Os raios de sol tocaram meu rosto, irradiando seu calor e me enchendo de alegria.
Um belo
beija-flor se aproximou, batendo suas asas rapidamente e se escondendo em meus
cabelos, fazendo cócegas. Estendi a palma da mão para acariciá-lo e algo
aconteceu.
O céu,
antes limpo e azul, tornou-se escuro e com nuvens de um cinza muito macabro. As
flores jaziam mortas no chão e em seus lugares surgiram outras, cadáveres, e
plantas carnívoras. O perfume agridoce existia apenas na vaga lembrança, que se
esvaía. As borboletas se transformaram em corvos, que esganiçavam
estridentemente, perturbando a paz que outrora existira.
A
escuridão me engoliu.
O
pequeno pássaro que me trouxera tanta felicidade mergulhou rapidamente no ar e
usou seu bico afiado para penetrar em meu pé, causando um machucado tenebroso.
O sangue jorrou de forma inesperada. O pequeno buraco causado pelo pássaro
começou a se expandir, deixar parte do meu esqueleto à mostra. Logo percebi que
a ferida estava enfestada de minúsculas larvas que decompunham minha carne.
Caí no
chão.
Tentei
gritar por socorro, mas o ar estava rarefeito. Meus pulmões queimavam e minha
garganta se fechava. Restava apenas esperar por meu final. Fui arrastada,
subitamente para a realidade.
Acordei.
Estava
em casa como de costume. Minha cabeça doía. Aparentemente estava tudo normal.
Levantei-me.
Instantaneamente,
avistei em meu pé algo horrendo, pior do que qualquer ferida purulenta em
decomposição. Dessa vez, consegui soltar um grito de horror. Comecei a chorar
desesperadamente e, à minha porta, surgiram inúmeras pessoas. Olhando com
pavor, consegui enfim dizer:
-Um
bicho de pé!!!
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